Desta minha janela vejo pingos que dançam
Folhas que caem soltas, logo pela manhã
Com o lenço na lapela enxugo memórias que me cansam
letras mortas que são já, terra deste meu afã
Em cada pingo vejo um rosto
em cada queda sinto um ano
Procuro um tempo já morto atrás do sol posto
um agora sagrado, que já foi profano
Talvez um arco-íris ainda me espere
quem sabe em tons de azul, verde, ou amarelo
ou a voz que desde sempre ouço, ainda prolifere
e se revele, ao som do violoncelo
Na verdade
a chuva é tão bela quanto o sol
muda a pesca:
…muda o anzol.