Pela primeira vez desde que fiz 18 anos, não exercerei o meu direito de voto.
Vou abster-me de ir às urnas, sustentando-me na inutilidade desta União Europeia, cujo actual modelo faliu em tudo quanto se propôs.
Permanecem dramáticas assimetrias entre o norte e sul. Permanece uma trágica discrepância entre o que os povos pensam e o que é feito, quer pelos seus governos, quer pelos seus eleitos.
A Europa não é unida. Não há portanto: União Europeia.
Permanece uma tomada de assalto por parte do BCE que empresta a quem quer, como quer, com as taxas de juro que lhe apetece, consoante o credor.
A União Europeia não é portanto uma união, mas a tomada de assalto por parte de uns, a outros, escamoteada muitas das vezes em migalhas emprestadas a preço da escravatura eterna, ou em nome da autorização do saque nacional.
O que não conseguiu ser imposto pela guerra de sangue, toma agora muitas vezes cor, através da guerra económica.
Nos últimos vinte anos, Portugal andou para trás.
Qualquer que seja a questão nacional (cultura, educação, saúde, justiça, economia, finanças, credibilidade das instituições, o estado de depressão colectiva): Portugal está muito pior, pese embora a melhoria de muitas das suas infra-estruturas, que agora ficarão vazias, entregues ao abandono, num país que caminha para a desertificação, envelhecido e deprimido.
A noção que temos na sociedade contemporânea de “participação democrática”, deriva da possibilidade de os cidadãos poderem influir efectivamente nas decisões que vão afectar as suas vidas.
Todos sabemos que a democracia não se esgota em eleições, ainda que seja precisamente nestas onde todo o cidadão, do mais rico ao mais pobre, utiliza o voto como um instrumento activo, na finalidade de agir sobre a realidade política.
Hoje não vou votar, porque sei que isso seria um acto inútil, ilusório e sem qualquer consequência de fundo.
E ainda, porque a abstenção consciente, hoje em dia, é a melhor forma de expressar o repúdio por este sistema em que nos encontramos.
Relembro sem dúvida todos quantos lutaram para que eu hoje tenha o direito de voto. Respeito-os e os não esqueço, mas sei bem que o princípio subjacente ao voto é “o suposto poder do qual o mesmo estava investido”. Tempos idos, esses.
Noutros actos eleitorais, reavaliarei. Mas confesso-me pouco crente, abrindo talvez uma excepção para as eleições dos protagonistas locais das nossas respectivas terras, que mais facilmente são levados ao escrutínio diário e que mais dificilmente podem fazer o contrário do que prometem.
Mas a ver vamos.