A dor do parto equivale à dor da derradeira partida. Ambas nos trazem algo de novo. Um novo início, ou no segundo caso: um novo fim.
Com o tempo aprendi a perceber que “só pode partir quem algum dia de facto esteve”. Por outro lado, “quem se instala, eventualmente não parte”.
Nem é bom nem é mau, calejado que estou já, da vida e do viver. Simplesmente É assim.
Compreendo hoje que a verdade é sempre objectiva, sempre simples. Deambulamos todavia pela estrada da subjectividade adentro, apenas perante a ausência da verdade absoluta. Exercício retórico, considerações teóricas, manuseamento de matrizes. Tudo distracções da verdade objectiva e absoluta.
A verdade não precisa de artefactos. De explicações. A verdade é clara, visível e impõe-se sempre, porque: é a verdade.
Por isso talvez seja tão difícil fugir-lhe. Ela persegue, cerca-nos e apanha-nos sempre.
Ainda assim, é tempo de preferir a paz a ter razão. De buscar a serenidade por contraposição à luta, por mais justa e pacífica que por ventura seja.
É tempo de deixar que a verdade se instale… calma, silenciosa, sem avisar.
Que também ela encontre o seu caminho e opere o que entender. Que mostre a Luz, mas também a Sombra. Que deixe sobressair e cheirar o aroma das doces flores perfumadas que anunciam a boa nova, mas também o odor pérfido e putrefacto dos sentires já mortos, que jazem inanimados, procurando descanso na tumba subterrânea das oportunidades perdidas. Ou das esquecidas… Ou das que aguardam ver o novo dia e definham quase sem esperança.
Mas um novo dia nasce sempre. Nascerá sempre! Com mais ou menos verdade. Qui ça com a renovação da mentira, mas até ela de olhos postos no horizonte e da sua singela oportunidade de transformação, impermanente que é tudo o que: É.
Que se transforme então, qual pequeno ser que aspira a sair do seu casulo e permitir fazer-se magia, qual borboleta que ganhará asas e ascenderá até ao sol que brilha e que desponta do zénite ao nadir.
Que a paixão de Ícaro nos não persiga e nos deixe voar!
Voar… Voar.