Quando eu morrer, façam uma festa! Contem histórias minhas e riam com as minhas fotos e com o meu pensamento escrito e falado, sobre os mais diversos temas.
Quando eu morrer, recordem que não deixei nada por fazer, porque fiz tudo o que podia, com as condições que tinha.
Quando eu morrer, que ganhe ainda mais força o significado de se ser “excêntrico”, de se ser “diferente”, de se querer VIVER e não apenas sobreviver.
Quando eu morrer, que cada amiga e amigo, cada mulher que amei, se recorde de que após os erros que cometi, tentei sempre melhorar, evoluir e aprender.
Quando eu morrer, que seja cremado para não ocupar espaço, nem ter lugar a homenagens posteriores e que seja dada pouca importância ao meu corpo físico (a menos que algum órgão se aproveite e possa salvar outra vida).
Quando eu morrer, que os meus livros sejam dados a todos quantos os queiram ler, repartidos pelos que amava, que as minhas músicas sejam ouvidas por quem delas gostar, que as minhas roupas sejam dadas a quem delas precisar.
Quando eu morrer, que os meus instrumentos de música sejam dados a uma criança que neles acredite e que não os tenha, para crescer mais feliz e mais sábia.
Quando eu morrer, que se chore, mas que se ria mais do que se chore e que a tristeza não demore a dar lugar a uma intensa alegria!
Quando eu morrer, que se tranquilizem todos quantos me confiaram segredos, porque tal como vos disse, nunca a ninguém os contei.
Quando eu morrer, que os que não meditam se lembrem de que o “gajo dizia que aquilo valia a pena”; que os que nunca tocaram nada na vida se lembrem que o “gajo dizia que era bom nos dedicarmos a uma arte qualquer”; que os que nunca deram nada na vida se lembrem de que “o gajo fazia voluntariado em não sei quantas coisas”; que os que acham que não sei quantas coisas são más e perdem tempo em teorias da conspiração, “se procurem informar a que causas e instituições estava o gajo ligado”; que os que acham que o dinheiro é tudo na vida, se lembrem de que “o gajo quer quando tinha muito ou quando tinha menos, andava sempre feliz”, que os que achavam que me conheciam, saibam que lhes faltava muito para lá chegarem… e que os que se acham loucos, saibam que não fazem ideia das loucuras todas que fiz.
Quando eu morrer, que quem me for mais próximo na altura saiba que ficou consigo um pedaço de mim, por ventura enorme, talvez até o maior… mas nunca o meu eu todo. Mas que isso o(a) não entristeça, mas sim o(a) faça sorrir e que se lembre que no fundo assim o é: com todos(as) nós…
Quando eu morrer, que se saiba que devo estar feliz porque muitos dos que mais gostava já tinham morrido e que os que ficaram também a mim se juntarão um dia.
Quando eu morrer, que não haja grande alarido, porque morrem pessoas todos os dias.
Quando eu morrer, que os que ficarem se lembrem, de que “eu avisei sempre que não morria”, pelo que não se admirem por continuar a existir.
Morrerei um dia, mas só fisicamente.
E não agora. Não hoje.
Um dia, quem sabe! E a ver vamos.
NOTA: texto escrito e dedicado a todos os que ainda não nasceram, apesar de parecerem vivos… e inspirado também na morte de Frankie Knuckles, um nome pioneiro e incontornável da house music, que partiu para o Oriente Eterno aos 59 anos, cheio de histórias para contar e carregado de boa música, que nos deixa e através da qual também viverá para sempre.