Ganesha (hinduísmo) é considerado o Mestre do intelecto e da sabedoria. Ele é representado como uma divindade amarela ou vermelha, com uma grande barriga, quatro braços e a cabeça de elefante com uma única presa, montado num rato, numa alusão ao absurdo.
Ganesha é o símbolo das soluções lógicas e deve ser interpretado como tal. Simboliza força, coragem, perseverança, inteligência, doçura e lealdade.
Filho de Shiva e Parvati, retrata um episódio onde se prova que nem a morte constitui per si um obstáculo.
O seu corpo é humano, enquanto que a cabeça é de um elefante; ao mesmo tempo, o seu transporte (vahana) é um rato. Desta forma, Ganesha representa uma solução lógica para os problemas que por vezes estão precisamente no paradoxo: é o “Destruidor de Obstáculos”.
- A cabeça de elefante indica fidelidade, inteligência e poder discriminatório;
- O facto de ele ter uma única presa (a outra estando partida e a ser usada como caneta) indica a habilidade de Ganesha de superar todas as formas de dualismo; é descrito também que ele retirou a sua outra presa para escrever os Vedas (os primeiros livros sagrados da humanidade), quando estes foram compilados por Vyasadeva, tido como encarnação literária de Deus, responsável pela escrita da literatura sagrada na actual era em que vivemos, retirando o conhecimento da oralidade;
- As orelhas abertas denotam sabedoria, habilidade de escutar pessoas que procuram ajuda e para reflectir verdades espirituais. Elas simbolizam a importância de escutar para poder assimilar ideias. As orelhas são usadas para ganhar conhecimento. As grandes orelhas indicam que quando Deus é conhecido, todo conhecimento também o é;
- A tromba curvada indica as potencialidades intelectuais que se manifestam na faculdade de discriminação entre o real e o irreal;
- Na testa, o Trishula (arma de Shiva, similar a um tridente) é desenhado, simbolizando o tempo (passado, presente e futuro) e a superioridade de Ganesha sobre ele; também representam os chamados “três modos da natureza material”, bondade, paixão e ignorância, que são superados por Ganesha e seu pai, Shiva.
- A barriga de Ganesha contém infinitos universos. Ela simboliza a benevolência da natureza e equanimidade, a habilidade de Ganesha de sugar os sofrimentos do Universo e proteger o mundo;
- A posição das suas pernas (uma em descanso no chão e a outra em pé) indica a importância da vivência e participação no mundo material assim como no mundo espiritual, a habilidade de “viver no mundo sem ser do mundo”. Ainda assim, nesta imagem encontramos Ganesha sentado no seu trono;
- Os quatro braços de Ganesha representam os quatro atributos do corpo subtil, que são: mente (Manas), intelecto (Buddhi), ego (Ahamkara), e consciência condicionada (Chitta). O Senhor Ganesha representa a pura consciência – o Atman – que permite que estes quatro atributos funcionem em nós;
- A mão a segurar uma machadinha, é um símbolo da restrição de todos os desejos, que trazem dor e sofrimento. Com esta machadinha, Ganesha pode repelir e destruir os obstáculos. A machadinha é também para levar o homem para o caminho da verdade e da rectidão;
- A segunda mão segura um chicote, símbolo da força que leva o devoto para a eterna beatitude de Deus. O chicote fala-nos que os apegos mundanos e desejos devem ser deixados de lado;
- A terceira mão, que está em direção ao devoto, está em pose de bênçãos, refúgio e proteção (abhaya);
- A quarta mão segura uma flor de lótus (padma) e ela simboliza o mais alto objectivo da evolução humana, a realização do seu verdadeiro eu.§
Nesta imagem estão incluídos dois tambores, sendo que no tambor esquerdo estão representados os símbolos yin e yang (feminino e masculino) da cultura chinesa.
Na mão de Ganesha direita (a palma da mão à nossa esquerda, que vemos virada para nós), está o olho de Hórus (Udyat). Representa a Luz e o Deus Sol. É um dos mais poderosos e importantes amuletos usados desde sempre no Antigo Egipto.
Precisamente o olho esquerdo representa a informação abstrata, controlado pelo lado direito do cérebro, é representado pela lua, e simboliza um lado feminino, com pensamentos e sentimentos, intuição e a capacidade de vislumbrar um lado espiritual. É também esse, o do logotipo da Luchapa.
Em baixo, encontramos novamente a flor de lótus e toda a sua simbologia inerente (por exemplo para os budistas a pureza do corpo e da mente), com Ganesha inscrita numa pirâmide, rodeada de penas ancestrais índias, alusiva a mais esse conhecimento cultural ancestral. No seu colorido de cores primárias, destacamos o verde perto do vermelho, alusivo à pátria e à nacionalidade.
O livro:
Na página à nossa esquerda, está inscrita a palavra em língua sânscrita para que define uma situação do acaso, denominada, kakataliya. Esta palavra é composta por kaka, que significa corvo, e tala, que significa palmeira. Traduz-se como o exemplo ‘do corvo e a palmeira’. No entanto, numa tradução livre, mas que apontasse para a intenção do vocábulo, poderíamos dizer que kakataliya significa: ‘coincidência acidental’.
Antes mesmo do Yoga Vashishtha, o Nyaya Sutra (‘Aforismos sobre a Lógica’), um texto do século VI dC atribuído ao sábio Akshapada Gautama,também cita a falácia do corvo na palmeira expondo a seguinte hipótese: um corvo pousa num coqueiro. No mesmo instante, um coco maduro desprende-se da árvore e cai.
Embora esses dois fatos estejam aparentemente vinculados no tempo e no espaço, não existe uma relação causal entre eles. Às vezes, é isso o que acontece na vida. Porém, a mente, confinada dentro de seus próprios limites lógicos, tende a criar um nexo entre os acontecimentos, inventando um ‘portanto’ e um ‘então…’ para satisfazer-se.
Assim, se alguém, por exemplo, reza para que algo aconteça, e isso coincidir com a realização daquele desejo, a pessoa tenderá naturalmente a acreditar que existe uma conexão causal entre a reza e a realização. Desta maneira, a pessoa desenvolve a idéia de que é possível forçar Ishvara (o Ser manifestado na forma da criação) a agir de acordo com seus próprios desejos e vontades. Dessa maneira, aquilo que parece uma sucessão verossímil de acontecimentos conectados, não passa de uma falácia, algo que parece verdadeiro, mas não é…
Essa falácia exposta na filosofia hindu foi igualmente postulada na filosofia grega pelo grande Aristóteles, que afirmou: post hoc, ergo propter hoc.
Traduzindo: ‘Depois daquilo. Portanto, provocado por aquilo’. Em suma, o que a falácia aristotélica diz é: ‘Isto aconteceu depois daquilo. Como aconteceu depois, isto só pode ter sido provocado por aquilo’. O coco caiu da palmeira depois do corvo pousar nela. Consequentemente, o pouso do corvo provocou a queda do coco.
Essa falácia, que ficou conhecida como post hoc, pode ser resumida da seguinte maneira:
1. A aconteceu antes de B.
2. Portanto, B foi produzido por A.
O corolário deste falso silogismo é que, quando B é algo indesejável, evitar A, certamente irá ajudar-nos a evitar B. A tendência a cair neste tipo de pensamento sofismático é natural, já que o sequenciamento de eventos na linha do tempo nos faz pensar que cada evento deriva e está conectado com o anterior, em todos os casos.
A lei do karma naturalmente é o princípio de causalidade, em que cada evento se origina no anterior e dá lugar, por sua vez ao seguinte. No entanto, é preciso compreensão para ver onde existe conexão causal entre eventos sucessivos e onde essa associação é apenas um produto da nossa mente.
Cabe lembrarmos que este tipo de falácia é uma conclusão tirada unicamente sobre o sequenciamento dos eventos percebidos desde a perspectiva de quem interpreta, desconsiderando todos os demais factores não percebidos pela testemunha, mas que possam intervir ativamente na situação.
Finalmente na página direita do livro, encontramos a palavra “ACASO”, neste encontro entre a significação rica e complexa do sânscrito e a ocidentalização nem por isso menos pura, neste caso… do acaso.
Este desenho no seu todo, representa o paradoxo da causalidade e o da não causalidade das coisas. Uma mescla de culturas e sabedorias: chinesa, hindu, índia e egípcia.
No topo, encontramos o símbolo Om (que também é a simbólica de Ganesha), que é precisamente a representação corporal do cosmos inteiro (tudo é som, frequência e vibração), carregado por um escorpião que: morde com o seu doce veneno “mortal”.
Morte e renascimento.