Aos poucos o caminho vai sendo feito, as malas fechadas e a bagagem arrumada.
Mas qual bagagem?
Desconfio que não levo nada comigo… a mala que insiste em não querer ser feita, revela a imensidão do vazio, que é presumivelmente mais forte.
Os segundos que o tempo devora avidamente, misturam-se por entre as memórias (aconteceu mesmo?) que teimo em guardar, mas que delicada e suavemente me escorrem, pelas mãos fora. Continuo firme e espero… Mas não acontece: NADA
Contemplo a paisagem que de exótica e imberbe, se revela banal e gasta. Esfrego os olhos para tentar ver de novo o que se esfuma. Cheira a bafio… mas o incenso era tão belo e brilhava tão bem!
As lágrimas de sangue caem a meus pés e resvalam na areia que o sol rapidamente seca, passado segundos… mas que eu ainda contemplo vermelha – fenómeno ocular?
Espero todavia, pacientemente, que surja o sinal esperado. Que as estrelas se revelem, que as nuvens se afastem e que no lugar do temporal, apareça rapidamente o imponente arco-íris de belas cores, que me dá alento e esperança.
Claro que não há dia de chuva que não tenha, ainda assim, o seu sol… Pois também a mim, tem ele enfim, surgido. Umas vezes tímido, outras mais reluzente.
PROFUNDAMENTE GRATO!
Ainda assim… a tempestade forte instalou-se, com todas as suas forças e troveja violentamente.
Há muito que não me metem medo esses vendavais, mas confesso que a força, desta vez impressiona…
Faz-me pensar se somos nós que enfraquecemos, se simplesmente nos esquecemos do quanto somos fortes, ou se afinal o adversário é verdadeiramente mais capaz desta vez… É incrível e assustadoramente forte, como só a força da Natureza o é.
Compreendo. Os extremos tocam-se… claro que tenho medo.
Mas no fim, sairei vencedor! Como sempre e porque não há intempérie que não tenha o seu fim, apesar das penosas marcas… sei disso.
E porque a Luz que me acompanha, (de dentro para fora), se reafirmará, rejubilará e resplandecerá… Porque se alimenta de MIM e lhe dou matéria viva de pura alma e múltiplas cores. Porque lhe dou inúmeros sorrisos para que se alimente, boas acções para que se instale e compaixão plena (ainda que nem sempre fácil) para que irradie e se misture no todo.
Tenho pena… mas não sei quem a verá comigo, nesse espectáculo tão maravilhoso de se ver.
Presumo que:
observará comigo tão ímpar cenário, apenas quem tiver lutado, ficado e sobrevivido. Nem que seja a minha solitária imagem reflectida no espelho, que tenho desde tempos imemoriais: por fiel companhia.