#105 Músicas profundas

Já aqui tinha falado uma vez de “Agnus Dei” de Samuel Barber.
 
De facto, o meu apurado ouvido escuta verdadeiramente com atenção e agrada-lhe muito do trance mais psicadélico, do experimentalismo mais profundo, do black metal mais intenso, da fusão jazz mais tecnicista, da world music mais exótica e tantos, tantos outros caminhos aparentemente desconexos.
 
No fundo, eu próprio sou afinal uma extensão do meu ouvido: uma caixa de surpresas. Ou talvez não.
 
Simplesmente descubro a beleza onde outros(as) a não encontram. Vislumbro a paz no meio da guerra, encontro sorrisos perdidos no meio de lágrimas soltas, recortes de esperança em desgraças sem fim.
 
E volta e meia regresso a temas profundos (como o Agnus Dei) que caracterizam “estados” de espírito meus que são constantes e eternos, que revisito volta e meia (aliás, habitam em mim).
 
A mais íntima dor, pode sempre dar lugar à esperança e após a queda com o toque nas profundezas do abismo, abraçando os nossos fantasmas e demónios mais velhos, podemos de novo escalar a montanha mais alta e colocar a bandeira com o nosso brazão da paz inscrito.

 

Aqui cito hoje “Misa Criolla” de Ariel Ramirez, nomeadamente “Kyrie”, ainda que por exemplo versões como a do tenor José Carreras, ou a do coro da UCLA University conduzida por Rebecca Lord com o tenor Joshua Guerrero e o barítono Ryan Thorn, sejam ainda mais fantásticas e a meu ver mais profundas que o próprio original, cuja capa de 1964 aqui reproduzo. 
 
Esta missa, onde repetidas vezes é cantado o trecho “Senhor tem piedade de nós (nosotros)” encontra uma intensidade tal e um clímax ímpar. Do mais simples que pode haver… Para mim, tocante.
 
De facto, entre variadíssimas críticas (fundamentadas) que coloco às mais diversas religiões (nomeadamente às instituições e protagonistas que as dirigem e dirigiram ao longo dos séculos) encontro e admiro obras de arte magníficas, nas suas mais diversas expressões, tendo a fé como fio condutor. 
 
Aqui fica o link https://www.youtube.com/watch?v=aiossDO5vRc para quem queira conhecer, nomeadamente a versão conduzida por Facundo Ramirez com a respectiva pauta.